Sempre
tive muito receio da morte, de mortos, velórios e cemitérios, até que, com
treze anos perdi uma grande e querida amiga a Maria Tereza Ferezin.
Foi
uma sensação muito estranha, pois quando somos jovens, temos a certeza de que
somos imortais...
A
imagem que ficou sempre viva em minha cabeça, foi a dessa minha amiga correndo
numa quadra de basquete. O que ela não tinha em estatura, compensava na
agilidade. Passava a perna em todas as grandonas que viessem pela frente,
sempre foi muito arisca e como jogava bem, a danada.
Lembro-me
dela também nas nossas reuniões; não as de escola, tínhamos um Clubinho onde
“discutíamos” várias coisas próprias da idade, ao mesmo tempo em que
realizávamos muitas brincadeiras e comilanças. Às vezes as reuniões eram no
quintal da casa da Eneida Simon de Castro, outras numa sala que o pai da Gisela
Savoi cedeu para nós lá na Rua Hugo Sarmento, onde ele tinha um consultório
dentário. Neste clubinho só entravam as meninas. Uma das vezes conseguimos uns
banquinhos velhos e os pintamos de amarelos. Ficaram lindos...
Além
disso, tinham as andanças, sempre em turma, pela Avenida Dona Gertrudes, as
cantorias e os altos papos no antigo coreto da Praça Joaquim.
Lembro-me
de quando Tereza começou a namorar o Paulinho Braga e do pouco tempo que
tiveram. Depois disso a doença e a morte.
Isso
não fazia parte do nosso mundo juvenil. Era muito estranho, muito triste,
afinal, éramos jovens e jovens são “imortais”.
Creio
que foi o primeiro funeral do qual participei, por isso foi tão marcante. Mais
tarde, já no cemitério, aquelas cenas tristes da hora do enterro. Nós todos
chorávamos muito abraçados e com os coraçõezinhos arrebentados de dor.
A
última imagem que vi antes de sair do cemitério foi a do Paulinho sentado junto
ao túmulo, também chorando, com o Netão ( Paschoal)ao seu lado conversando com ele.
Nos
dias que se seguiram, íamos sempre ao cemitério logo que saíamos da aula.
Estudávamos no Ginasinho, no prédio “novo”, ali na Vila Conrado.
A
nossa turminha saía junta e ficávamos por lá alguns instantes, perto do túmulo
da nossa amiga. Gostava daquele silêncio, e creio que foi muito importante para
minha aceitação de muitas coisas que ainda viriam.
Voltei
ali outras vezes, sozinha, para rezar, andar e pensar um pouco. A sensação de
paz era muito boa.
Tenho
quase certeza de que se a Tereza tivesse chegado à idade adulta, ela se
pareceria com a atriz Sandra Bullock. Essa impressão me veio à cabeça desde a
primeira vez que vi a tal atriz.
Outro dia, precisei voltar para um funeral e essas lembranças vieram novamente à minha
mente. A sensação de paz, as pessoas falando baixinho e com respeito, os
soluços contidos.
O
céu estava muito azul, céu de inverno. Isso me chamou atenção, pois todas as
vezes que perdi alguém com quem tinha uma amizade, ou um contato maior, o céu
estava cinza.
Independente
do céu, a sensação de paz permanece ali. Que pena que só ali...
Texto e Foto: Silvia
Ferrante
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