sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

MARIA TEREZA

                       MARIA TEREZA

Sempre tive muito receio da morte, de mortos, velórios e cemitérios, até que, com treze anos perdi uma grande e querida amiga a Maria Tereza Ferezin.
Foi uma sensação muito estranha, pois quando somos jovens, temos a certeza de que somos imortais...
A imagem que ficou sempre viva em minha cabeça, foi a dessa minha amiga correndo numa quadra de basquete. O que ela não tinha em estatura, compensava na agilidade. Passava a perna em todas as grandonas que viessem pela frente, sempre foi muito arisca e como jogava bem, a danada.
Lembro-me dela também nas nossas reuniões; não as de escola, tínhamos um Clubinho onde “discutíamos” várias coisas próprias da idade, ao mesmo tempo em que realizávamos muitas brincadeiras e comilanças. Às vezes as reuniões eram no quintal da casa da Eneida Simon de Castro, outras numa sala que o pai da Gisela Savoi cedeu para nós lá na Rua Hugo Sarmento, onde ele tinha um consultório dentário. Neste clubinho só entravam as meninas. Uma das vezes conseguimos uns banquinhos velhos e os pintamos de amarelos. Ficaram lindos...
Além disso, tinham as andanças, sempre em turma, pela Avenida Dona Gertrudes, as cantorias e os altos papos no antigo coreto da Praça Joaquim.
Lembro-me de quando Tereza começou a namorar o Paulinho Braga e do pouco tempo que tiveram. Depois disso a doença e a morte.
Isso não fazia parte do nosso mundo juvenil. Era muito estranho, muito triste, afinal, éramos jovens e jovens são “imortais”.
Creio que foi o primeiro funeral do qual participei, por isso foi tão marcante. Mais tarde, já no cemitério, aquelas cenas tristes da hora do enterro. Nós todos chorávamos muito abraçados e com os coraçõezinhos arrebentados de dor.
A última imagem que vi antes de sair do cemitério foi a do Paulinho sentado junto ao túmulo, também chorando, com o Netão ( Paschoal)ao seu lado conversando com ele.
Nos dias que se seguiram, íamos sempre ao cemitério logo que saíamos da aula. Estudávamos no Ginasinho, no prédio “novo”, ali na Vila Conrado.
A nossa turminha saía junta e ficávamos por lá alguns instantes, perto do túmulo da nossa amiga. Gostava daquele silêncio, e creio que foi muito importante para minha aceitação de muitas coisas que ainda viriam.
Voltei ali outras vezes, sozinha, para rezar, andar e pensar um pouco. A sensação de paz era muito boa.
Tenho quase certeza de que se a Tereza tivesse chegado à idade adulta, ela se pareceria com a atriz Sandra Bullock. Essa impressão me veio à cabeça desde a primeira vez que vi a tal atriz.

Outro dia, precisei voltar para um funeral e essas lembranças vieram novamente à minha mente. A sensação de paz, as pessoas falando baixinho e com respeito, os soluços contidos.
O céu estava muito azul, céu de inverno. Isso me chamou atenção, pois todas as vezes que perdi alguém com quem tinha uma amizade, ou um contato maior, o céu estava cinza.
Independente do céu, a sensação de paz permanece ali. Que pena que só ali...

Texto e Foto: Silvia Ferrante


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