terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

“EU E O MAESTRO”



Estava sentada naquele lugar lindo, iluminado. Era assim como uma grande redoma de vidro cercada de muito verde.
 As plantas, em profusão, davam ao ambiente um toque muito especial. Nunca havia visto nada parecido. Todas as mesinhas eram brancas assim como as cadeiras, o piso, a louça, as toalhas e a minha roupa. O salão era imenso e, naquele momento, estava vazio.
Eu me encontrava sentada sozinha numa daquelas mesinhas e saboreava tranquilamente um Cappuccino com muita canela.
De repente, vejo entrar no salão um homem alto, também de roupa branca, chapéu tipo Panamá na cabeça, charuto em uma das mãos e um copo de Whisky na outra.
Veio em minha direção e eu tinha certeza de que ele não me era estranho. Ao chegar perto da minha mesa, cumprimentou-me e disse:
 - Você continua na música, Silvia?
Eu fiquei pasma! Reconheci a figura, a voz rouca, imaginem, era o Tom!  Tom Jobim, maestro, compositor, músico, pianista ali na minha frente conversando comigo e ainda por cima me chamando pelo nome como se também me conhecesse.
Fiquei boquiaberta e sem saber o que dizer enquanto o observava colocar seu copo sobre a minha mesa, puxar uma cadeira e sentar.
Minha reação?
 – “Me belisca que eu tô sonhando”...
Porém, estava tudo ali, era tudo muito real. O maestro conversou comigo por horas. Falou-me de sonhos, de sons, da natureza, principalmente de sua grande paixão que são os pássaros, de música.
Pediu que eu não desistisse nunca de cantar, disse que eu realizaria grandes coisas e, com elas, muitos sonhos.
Às vezes eu arriscava falar algo, ou mesmo fazer alguma pergunta. Tudo que eu dizia parecia tolo diante da grandeza daquele homem sentado à minha frente, daquele “maestro – amigo” que eu nem desconfiava ter.
Num lampejo da minha memória lembrei:
- O maestro Tom Jobim havia falecido havia tempos...
Foi só essa confirmação chegar à minha cabeça que ele, mesmo sem eu ter falado nada, despediu-se, levantou e saiu fumando seu charuto.
Caminhou um pouco, olhou mais uma vez para mim e me presenteou com um sorriso e um sinal de adeus.
Uma porta, também branca, se fechou atrás dele.

Acordei em paz e percebi que o cheiro da fumaça do charuto que o maestro fumava impregnava meu quarto...


Silvia Ferrante

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