segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

CARNAVAL X FUTEBOL

                                              CARNAVAL X FUTEBOL

Observadora que sou, ao assistir um pouco dos desfiles das Escola de Samba do Rio de Janeiro, divaguei sobre a beleza da arquibancada toda em pé, cantando e agitando bandeirinhas e saudando amigavelmente cada uma das Escolas que entrava no Sambódromo, sem rivalidade, apenas na união para que a diversão seja completa.
Daí me perguntei: se no Carnaval é assim, por que será que as torcidas de futebol, mundo afora, precisam se matar, quebrar tudo, arruinar o belo espetáculo que é o Esporte? Tão mais simples apenas se unir e aproveitar o espetáculo, não é?
Será apenas mais uma de minhas “utopias”? Será que consegui enxergar apenas o belo de uma cena?
O bicho homem, continua a me surpreender, mesmo quando eu falo que nada mais me surpreende...
Achei lindo ontem o que vi, fiquei feliz em ver a “unidade”. Precisamos aprender cada dia mais a ter essa atitude perante a vida, que nos é tão cara e que tão poucos valorizam.... A Paz que todos almejam, começa nas pequenas coisas.....

Bom Carnaval aos que curtem a “folia”. 
Bom descanso aos que curtem apenas o “feriadão”!

Texto e foto: Silvia Ferrante


domingo, 26 de fevereiro de 2017

HONESTIDADE

HONESTIDADE

         Vemos tanta desonestidade por todos os lados que quando algo honesto acontece, por mais simples que seja, é motivo de surpresa e admiração.
         Estávamos, eu e o Lima, numa tremenda faxina, num domingo de muito calor, quando toca o interfone de casa e o Lima ao atender se surpreende com o som de uma voz desconhecida, lhe pedindo as latinhas de cerveja e refrigerante que estavam em sacolas para irem para reciclagem.
         Essas sacolas estavam na garagem da nossa casa e o Lima ao atender a dona da voz se surpreendeu, pois, o portão da garagem estava aberto e ela, mesmo sabendo que era “lixo”, não entrou e pegou: interfonou e pediu. 
         Que grata surpresa!
Enquanto somos surrupiados impiedosamente dia após dia, nos cenários mais diversos, a começar pelo Planalto Central, uma mulher simples, que poderia apenas ter entrado na garagem e apanhado as sacolas, nos deu essa lição de honestidade e retidão.
         Infelizmente não sei o nome dela. Ela disse que gostaria de vender as latinhas para poder comprar o leite que faltava para sua menina. E nos disse ainda que gostaria de trabalhar como faxineira, se não sabíamos de ninguém que pudesse contratá-la. Na verdade, a vontade que nos deu foi de contratá-la naquela hora...
         Minha filha Lyvia, ainda grávida de seus gêmeos, foi assaltada em São Paulo. Graças a Deus não sofreu nenhuma violência física, apenas o larápio se apossou de sua carteira com todos os seus documentos e dinheiro, enquanto ela estava na muvuca que é para se pegar o metrô. Ficou assustada e aborrecida pensando na chatice que seria tirar toda sua documentação novamente.
         Dias depois desse fato recebo um telefonema aqui em casa, do pessoal do Cartório Eleitoral perguntando qual meu parentesco com Lyvia Lisi. Disse à pessoa que eu era sua mãe. A moça se identificou e disse que alguém havia encontrado uma carteira com todos os documentos da minha filha e que estava encaminhando para o cartório daqui.
         Os documentos chegaram intactos, ainda dentro da carteira. Veio por um Sedex e fomos buscar aliviados. 
O rapaz que encontrou a carteira era de outra localidade, dentro da Grande São Paulo. Não nos conhecia, mas teve esse gesto de generosidade imensa ao devolver tudo dessa maneira.
         Que bom que apesar de todas as coisas que temos visto, ainda existem pessoas honestas e de bem por aí. Bom para que nossa esperança não se perca, bom para que nossa boa vontade aconteça.
         Não conseguimos agradecer a esse moço, pois ele se esqueceu de colocar o número da sua residência e infelizmente também não encontramos seu telefone, mas lhe seremos eternamente gratos por esse gesto, por tudo que representa para nós, nesse mundo tão amalucado...
         Que exemplos para essa falta de vergonha na cara que se apossou desse país. Um país de meias e cuecas cheias de dinheiro sujo, roubado mesmo e outras coisinhas mais.
Essas pessoas nos dão esperança de que as coisas podem ser diferentes, que a honestidade, não foi jogada nos lixões que se espalham por aí, que a semente do bem é forte e que ainda vai viver por muitos anos.

Honestidade! A palavra de ordem para todos nós, em todos os anos!


Texto e foto: Silvia Ferrante

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

MARIA TEREZA

                       MARIA TEREZA

Sempre tive muito receio da morte, de mortos, velórios e cemitérios, até que, com treze anos perdi uma grande e querida amiga a Maria Tereza Ferezin.
Foi uma sensação muito estranha, pois quando somos jovens, temos a certeza de que somos imortais...
A imagem que ficou sempre viva em minha cabeça, foi a dessa minha amiga correndo numa quadra de basquete. O que ela não tinha em estatura, compensava na agilidade. Passava a perna em todas as grandonas que viessem pela frente, sempre foi muito arisca e como jogava bem, a danada.
Lembro-me dela também nas nossas reuniões; não as de escola, tínhamos um Clubinho onde “discutíamos” várias coisas próprias da idade, ao mesmo tempo em que realizávamos muitas brincadeiras e comilanças. Às vezes as reuniões eram no quintal da casa da Eneida Simon de Castro, outras numa sala que o pai da Gisela Savoi cedeu para nós lá na Rua Hugo Sarmento, onde ele tinha um consultório dentário. Neste clubinho só entravam as meninas. Uma das vezes conseguimos uns banquinhos velhos e os pintamos de amarelos. Ficaram lindos...
Além disso, tinham as andanças, sempre em turma, pela Avenida Dona Gertrudes, as cantorias e os altos papos no antigo coreto da Praça Joaquim.
Lembro-me de quando Tereza começou a namorar o Paulinho Braga e do pouco tempo que tiveram. Depois disso a doença e a morte.
Isso não fazia parte do nosso mundo juvenil. Era muito estranho, muito triste, afinal, éramos jovens e jovens são “imortais”.
Creio que foi o primeiro funeral do qual participei, por isso foi tão marcante. Mais tarde, já no cemitério, aquelas cenas tristes da hora do enterro. Nós todos chorávamos muito abraçados e com os coraçõezinhos arrebentados de dor.
A última imagem que vi antes de sair do cemitério foi a do Paulinho sentado junto ao túmulo, também chorando, com o Netão ( Paschoal)ao seu lado conversando com ele.
Nos dias que se seguiram, íamos sempre ao cemitério logo que saíamos da aula. Estudávamos no Ginasinho, no prédio “novo”, ali na Vila Conrado.
A nossa turminha saía junta e ficávamos por lá alguns instantes, perto do túmulo da nossa amiga. Gostava daquele silêncio, e creio que foi muito importante para minha aceitação de muitas coisas que ainda viriam.
Voltei ali outras vezes, sozinha, para rezar, andar e pensar um pouco. A sensação de paz era muito boa.
Tenho quase certeza de que se a Tereza tivesse chegado à idade adulta, ela se pareceria com a atriz Sandra Bullock. Essa impressão me veio à cabeça desde a primeira vez que vi a tal atriz.

Outro dia, precisei voltar para um funeral e essas lembranças vieram novamente à minha mente. A sensação de paz, as pessoas falando baixinho e com respeito, os soluços contidos.
O céu estava muito azul, céu de inverno. Isso me chamou atenção, pois todas as vezes que perdi alguém com quem tinha uma amizade, ou um contato maior, o céu estava cinza.
Independente do céu, a sensação de paz permanece ali. Que pena que só ali...

Texto e Foto: Silvia Ferrante


quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

MPB

MPB

         Nunca se viu tantos programas na TV para “descoberta” de novos talentos para nossa MPB. Vimos o The Voice, com sua repercussão, o programa do senhor Raul Gil, o Ídolos, etc.
Duas coisas distintas me incomodam nesses programas:
- Primeiro: se procuramos vozes brasileiras, por que todos cantam como os americanos?  Nada contra, mas é o jeito americano de cantar, e não o nosso. Nossa música tem um gingado diferente, uma maneira especial de cantar e não é aquela, com certeza. Temos vozes lindas por aqui que se perdem tentando cantar de uma maneira que não é a nossa.
O que é isso? Não temos mais uma identidade musical? Precisamos mesmo ficar colados em tudo o que vem de fora? Onde iremos acabar fazendo assim? Ou melhor, vamos acabar?
A nossa maneira tão linda de cantar, vai se extinguir, em função de coisas que não são nossas, que são modismos que o brasileiro insiste em admirar e aplaudir mais do que as que temos por aqui?
- Segundo: acredito ser o fim da picada programas que querem talentos para o Brasil, aceitar que músicas internacionais sejam apresentadas.
Nada contra outros países e outras músicas que têm em seus repertórios coisas belíssimas, mas e nós? E as músicas brasileiras, que são tantas e de uma qualidade invejável? Tantos compositores, tantas músicas relegadas a um segundo plano em função de coisas que nem são daqui... Que pena!
A nossa boa MPB é reverenciada no mundo todo. Vemos americanos, esses mesmo que tentamos imitar, ouvindo e delirando com nossas canções, vemos japoneses enlouquecidos quando ouvem nossas músicas e nossos ritmos, muitos deles vêm para o Brasil para aprender o que é nosso. E nós???
Em vez de valorizarmos e cantarmos o que temos, num concurso nacional buscamos coisas de outros países: que triste.
Creio que no regulamento de cada um desses concursos, uma das cláusulas deveria ser: “Interpretar música brasileira”.
Mostrar para esse grande público as coisas lindas que temos, já que são poucas as rádios e TVs que ainda fazem isso.
Desde Chiquinha Gonzaga até Maria Gadu, passando por todos os mestres e mestras da nossa música, temos muita coisa a ser cantada, ouvida e apreciada...
Não podemos deixar que o império americano nos vença nisso. Somos muito bons, não precisamos escolher o que é nosso usando coisas deles.


Texto e Foto: Silvia Ferrante

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

“O MISTÉRIO DO GATO QUE NÃO ERA GATO”

“O MISTÉRIO DO GATO QUE NÃO ERA GATO”

Tem uma historinha, que já virou lenda (envolvendo o Bar do Peixoto), que adoro.

Maio de 2004, show do cantador Dércio Marques, Teatro de Tábuas lotado. O cantador, com sua simplicidade e talento, prende a atenção da plateia e nos faz viajar através de suas cantorias.
De onde estou observo a cena: vejo o Dércio no palco cercado por fitas coloridas colocadas pela Clara Gianelli, vejo o Dani e o Pedro com suas câmeras filmando tudo e vejo o Fernando Teodoro num canto do palco fotografando sem parar com sua “super mega máquina digital novíssima” – invejinha....
De repente o Fernando senta ali no chão mesmo e guarda sua máquina. Olha um pouco para o Dércio e depois em direção às pessoas que estavam sentadas nas cadeiras dispostas em cima do palco. Noto que algo chama sua atenção, ele olha pro chão (pro pé do Zé Jabur) e rapidamente retira sua câmera da bolsa. De máquina em punho, mira e foca o local, depois tira a máquina do olho, faz cara de desapontado e novamente guarda a câmera sem usar.
Nesse momento, o Dércio para o show e diz:
-“Gente, vocês não vão acreditar, mas eu juro que vi o gato do Bar do Peixoto andando aqui no palco”! Todos riem e o show continua.

Depois do show já no Bar do Peixoto, o Fernando me puxa pelo braço e pergunta se ele tava bêbado ou se o Dércio tinha falado mesmo sobre um gato no palco. Sorrindo respondo que realmente o Dércio falou sobre um gato...
- Silvia – ele diz – você não vai acreditar, mas eu vi o gato do Peixoto no palco, nos pés do Jabur, até tirei a câmera para fotografá-lo. Daí caí na real quando não consegui mais achar o gato e pensei que estava caducando. Imagina, o que o gato do Peixoto estaria fazendo no palco do Teatro de Tábuas? Em seguida o Dércio para o show e fala do gato? O que é isso, alucinação coletiva?
Chamamos o Dércio que imediatamente fez uma festa com a história e foi atrás do gato (que na realidade é uma gata) e ficou com ela em seu colo o resto da noite.
Dias depois, encontro no mesmo bar um grupo de amigos que estavam no show. Todos elogiam e falam da beleza da noite. Resolvi contar a eles a história do gato misterioso. Quando terminei a narrativa, a Terezinha do Edvaldo, vira e diz com cara de espanto:
- Qual
é gente? Vai dizer que vocês não ouviram um gato miar durante todo o espetáculo do Dércio?
Mistérios...

PS: O João Bota jura de pés juntos que durante o show do Dércio Marques a dita gata esteve no colo dele enquanto ele e sua turma cantavam no Bar do Peixoto...
E quem quiser que conte outra!

Texto e foto: Silvia Ferrante



terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

“O QUE SOMOS”

“O QUE SOMOS”

Sempre ouvi dizer que as pessoas que passam por nossa vida, sempre deixam um pouco de si e levam consigo um pouco de nós.
Não sei o que posso ter entregue àquelas pessoas que passaram por mim. Tomara que tenha conseguido dar boas coisas. Creio que isso nem sempre aconteceu. Tem dias em que estamos do avesso; que pena!
Parei para pensar e consegui captar algumas coisas que considero boas e que, pessoas muito queridas deixaram de presente para minha vida.
De meus pais e irmãos recebi a segurança do amor incondicional. De minhas filhas e netos, a certeza da plenitude enquanto mulher, o amor e a esperança no futuro.
De meus amigos, as coisas mais incríveis, diversas e ricas. O Pedro Conti me ensinou a beleza da liberdade e da amizade sem limites, a Zizi Abdal me deu muitas lições de coragem, Zezinho Só a genialidade, Célia Bertoldo o tempo da delicadeza da música e a fé em mim. Lealdade recebi das meninas da Santa Casa, posso citar a Celina Balbino, a Joana Andrade, a Martinha, a Maria Mariano e a Valdenice, entre outras.
Do pessoal do Teatro de Tábuas a alegria, o comprometimento, lições bem aprendidas com o Júnior (Antônio), o Daniel Salvi, o Thiago Kávila, e a Suiara.
A determinação veio da Renatinha Melo e o cuidar da Sônia Quintaneiro. Do miguinho Gilberto Brandão a palavra, do Ronaldo Marin e da Zeza, a persistência.
Do Adolfo Mazzarini (Testa) a grande lição da amizade (mais uma, graças a Deus), do Zé Jabur a doçura e o acolhimento. Beto Amiki se fez em forma de companheirismo, a Tuca e o Sérgio Michelazzo em bondade. O Fredinho Blasi e a Selma me deram lições de apoio e solidariedade. E a Maria Célia Marcondes em elegância.
É delicioso lembrar também das lições de simplicidade e da alegria de viver da Tereza Galdino Amâncio, da confiança do meu novo amigo João Olívio Sibin, da retidão e do talento da Sílvia Borges. Isso sem falar do bom humor invejável do meu ex-amigo invisível Jotace (José Carlos Carneiro), não ficamos inimigos não, é que agora a gente se conhece, não somos mais invisíveis...
Outras coisas que me comovem: a humildade do talentoso José Roberto Vital, a fé da Neusa Fialho, o carinho e o amor imensos da Cláudia Maksoud, a sensibilidade do Xamã Timberê, a jovialidade do seu Jorge (que já partiu) e da dona Ica. A poesia do João(Anjo) Gabriel, a amizade da Maria Lígia Fagotti, o amor desprendido da Marcy Berth(uma lição de vida), o envolvimento, o amor, a música e a retidão do Lima.
Não quero com esses exemplos, dizer que essas pessoas citadas me doaram apenas essas coisas, não. Cada um deu muito mais de si do que eu poderia ter escrito. Isso sem contar as outras tantas que não conseguiria colocar num pedaço de papel.
Cada uma das pessoas que passaram, deixaram coisas.... Muitas coisas...
Seriam milhares de exemplos, ainda mais no meu caso, que conheço muitas pessoas especiais. Sei que cada uma delas colaborou de alguma forma para que eu me transformasse no hoje eu sou.
Somos feitos desses pedaços todos e nos deixamos também pela vida. O grande segredo é esse: saber receber e saber doar-se.
Nem sempre sabemos o quanto e nem quando estamos participando tão intimamente da vida de alguém, por isso o grande segredo é estarmos sempre atentos. As pessoas captam coisas nossas e se deixam em nós.
E isso é no mínimo lindo!

Texto e Foto: Silvia Ferrante


segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017


Sou Silvia Ferrante e adoraria que conhecessem meus trabalhos!
Sou multi artista; escrevo, canto, fotografo, vice e versa, versa e vice.....
Junto aos meus escritos, mando minhas imagens, aos poucos, em doses homeopáticas.
Minha voz, poderão conhecer no soundcloud...
Meu amor por isso tudo, vocês compreenderão, ou não.
Ofereço gotas do que sou e faço a todos que me seguem...
Possuo dois livros lançados pela Chiado Editora, "A Primeira Dama" e "Por Ser Mulher". Editei de maneira independente 3 livros infantis: "Clarinha e a Fada da Luz", "Carol e a Arraia Mágica" e "Juju e Tatinha". E lhes digo; vem mais por aí.....

E assim sigo feliz!
Venham comigo...

Beijos

Silvia Ferrante






                                         Foto by: Fábio Nogara




https://soundcloud.com/user-632008432

Instagram - Silviaferrante

CRÔNICA DE MIM (1)

CRÔNICA DE MIM (1)

Fiz sim, Técnico em Enfermagem! No segundo grau, Instituto, com direito a não jantar pois não dava tempo. Era banho ou janta, eu preferia o banho depois de um dia de BRADESCO.
Entre uma doença e outra, um pouco de português, que era das matérias tradicionais, a única que resistiu até o fim do curso.
Em sala 21 alunos, sendo um homem, um gay e o restante da sala, mulheres/meninas. Um dos meus mais queridos professores, Zé Luis, que tinha o curioso apelido de Goiaba. Grande incentivador e conhecedor profundo das matérias,
Enfermeiro de Saúde Pública, conhecia pra caralho todas os segredos desta profissão.

Gostava de fotografia, música e poesia, era dos meus.... Lembro-me dele falando de Joana, Elba Ramalho e Amelinha dizendo:
- Sabe Silvia, essas meninas ainda ficarão famosas...
Um dia ele levou uma máquina fotográfica, sabe aquelas com lentes de metros???? Me chamou junto da lousa e mandou uma das meninas pro fundo da sala.

Colocou a câmera em minhas mãos, focava e mandava eu olhar. Acrescentava mais uma lente, focava e mandava eu olhar. Fez isso até que no foco estava apenas a íris da menina, que era de um azul profundo

Quando saia da aula, às 22:40hs, além da lua, quem me acompanhava era meu amigo gay, que hoje mora lá, junto da lua. Ele ia me contando seus sonhos e falava das coisas que gostava mesmo de fazer. Bordava, cuidava do jardim, era jeitoso com cabelos e maquiagens. Era muito culto, adorava ler! Levamos altos papos por essas ruas da nossa cidade....

Eu andava muito por aqui; do Instituto de Educação até a Rua Conselheiro Antônio Prado, era uma pernada e tanto. A gente não precisava ter medo, a cidade era de paz, a escuridão não trazia os perigos que hoje encontramos, aliás, que encontramos mesmo a luz do dia.

Não sei o que aconteceu com o resto da turma, nem com outros professores...
Também nem tenho mais aquela paixão pela Enfermagem, fui roubada! Ou talvez, me deixei roubar...


Isso é coisa dos dias atuais...


                              Texto e foto: Silvia Ferrante

domingo, 19 de fevereiro de 2017

UM SENHOR CHAMADO MILTON NASCIMENTO

UM SENHOR CHAMADO MILTON NASCIMENTO

Acabei de chegar de Águas da Prata onde tomamos, eu e o Lima, nosso café da manhã dominical. O Lima, antenado que é, fica com grande parte dos jornais, eu, amante das artes, me contento com o Caderno 2.
Hoje o domingo do tal caderno, foi totalmente dedicado ao senhor Milton Nascimento, senhor sim, pasmem, ele fará 75 anos neste ano de 2017, em outubro, para ser mais precisa.
A emoção que as matérias me causaram foram muitas. Milton, foi meu primeiro grande amor musical, mesmo antes do Chico Buarque, acreditem se quiser.
Milton, com a voz dos “Anjos”, segundo a Bethânia, ou mesmo com a voz do próprio “Deus”, como acreditava Elis Regina. Voz única e para mim, indescritível. Voz que penetra na alma do mais gélido ser, e traz à tona toda gama de sentimentos possíveis.
Fosse apenas a voz..., mas ele vem completo, com letras e canções, que somente grandes gênios são capazes de compor/escrever.
Milton me fez chorar de emoção inúmeras vezes. Travessia, O Rouxinol, Canção do Sal, San Vicente, O que foi feito deverá, Maria, Maria, Tristesse, e por aí afora.... Lembro-me de ter demorado anos para me arriscar a cantar Morro Velho, pois chorava copiosamente quando a ouvia.
E é dele a “canção da minha vida”, Cais, que é e sempre será meu hino!
Pesquisando sua obra, podemos observar que ele é uma pessoa que sempre teve inúmeros parceiros musicais, e grandes poetas ao seu lado nas canções: Canção Amiga, parceria com Drummond, Bela Bela, com Ferreira Gullar, apenas uma minoria de sua obra não têm parceiros.
Junta-se essa genialidade, a um eterno menino apaixonado e grato ao mundo, temos ao nosso dispor, Milton Nascimento. Que presente os céus nos deu!

Ele voltará aos palcos em março, primeiramente em BH, está com saudades de nós, seus fãs. Quero muito ir vê-lo. O nosso tempo aqui neste planetinha, nem é mais tanto assim, precisamos aproveitar.
Milton, que bom que voltará. Meu coração mais uma vez será embalado por sua voz.

Sua bênção! E desculpe pelo “Senhor” do título, artistas e sonhos não envelhecem, não é?

Silvia Ferrante – fevereiro de 2017



PS: Dedico este texto às minhas queridas: Maria Lígia Fagotti, Renata Melo, Eliane Almeida e ao meu mestre Luis Carlos Pistelli, que descortinou o mundo de Milton para mim.

sábado, 18 de fevereiro de 2017

A DOR DO MUNDO

A DOR DO MUNDO

O sangue escorre pelo buraco da bala, a plasta vermelha encharca a cabeça. A vida que um dia existiu e que até poucos instantes pulsava, se esvaiu com todo plasma. Somos apenas isso? Temos consciência da nossa pequenez?
Ali, inerte e sem vida, jaz mais uma vítima da violência humana.... Quem é essa pessoa? Por que tanto ódio? Essa rotina, a faz enxergar o quanto a vida é um fio, tênue fio.
Esse dia-a-dia da emergência a está consumindo. Não pode mais suportar a dor que não é dela. Outras dores a consomem, tudo fica pesado demais.
Seus olhos entristecidos, não suportam mais assistir a cenas como esta; seu coração apertado engole um soluço e ela, impotente, se cala.
Precisa trabalhar...


Silvia Ferrante


sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

“ O SONHO DA SOLIDÃO”

“ O SONHO DA SOLIDÃO”

Em seu sonho alguém cantava para ela. Uma canção de amor, melodia suave e letra enamorada, que tocava seu coração carente.
A noite já ia alta e as estrelas tinham um brilho especial naquele momento. Ela, debruçada na janela, se embebedava da poesia, do cantor. Ele estava lindo, de terno branco de linho, igual aos filmes antigos. Ela o ouvia e se deliciava.
De repente, um barulho de vidros quebrando, o latir furioso de um cachorro e o esbravejar de um vizinho que teria de acordar cedo.
Então aquele que era seu príncipe vira, solta um palavrão e chuta uma lata.
Assustada, ela acorda!
O seu príncipe do sonho, foi apenas um bêbado cantando, enquanto a noite ia alta....

                            Texto e foto: Silvia Ferrante



quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017


CHEIRO DOS JASMINS

Ela ainda se lembra; a noite tinha lua cheia, e seu olhar, enluarado, olhava o prateado da noite. Da grande janela do casarão, via um menino, um jasmineiro, um sorriso encantado e a flor branca com seu perfume. Vagou naquele momento....
O tempo levou a cena, seu coração gravou. O menino cresceu e foi embora, o jasmineiro morreu. O cheiro das flores, ela ainda sente.
Pode assim, viajar no tempo da memória, onde um dia se encantou por aquele menino. E eles se amaram, por muito tempo, o amor que, com certeza, ainda existe.
Hoje ela é apenas o reflexo da solidão, vive apenas em suas lembranças....


Deus, como ela foi feliz!
Micro conto e foto: Silvia Ferrante - 2017

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

A TROCA

A TROCA

Como fazia todos os dias desde que entrara para a faculdade de biologia, Carlo levantava às cinco horas da manhã para correr. Adorava a sensação de liberdade que a corrida lhe dava. Fazia seu alongamento, comia algo leve, vestia-se adequadamente, colocava seus fones de ouvido e saía feliz. Ver o sol chegando aos poucos e amarelando aquela cidade, que agora era sua também, pelo menos por um período em sua vida, era para ele, a melhor maneira de começar seu dia. Descobrira atrás do prédio em que morava o local ideal para correr. Era uma linha férrea, onde os trens passavam pontualmente, por isso, de posse dos horários, ele sabia que podia correr ali, sem perigo algum, e com a paz que procurava. Era o seu tempo de silêncio e meditação. A música em seus ouvidos, sempre bem alta, o vento lhe acarinhando o rosto, os cabelos e o corpo, e a sensação única de que, naquele momento, se quisesse, poderia até voar.
Era o final da década de 80 e tudo em sua vida ia bem, adorava o que fazia, seus estudos e suas pesquisas eram o que lhe davam razão para continuar. Ele queria muito se especializar em doenças raras para tentar colaborar em pesquisas que pudessem amenizar a dor de outros.
Fora criado em uma família tradicional de interior, além de seus pais e avós, sempre havia tios e primos por perto. Sua ligação com seu pai era de extremo afeto. Os dois eram muito companheiros e amigos. A parte mais difícil, quando passou na Faculdade, foi se separar desse, que para sempre seria o seu herói. Mas o pai o havia incentivado ao máximo e lhe dizia para pensar que era uma fase passageira e que logo estariam juntos novamente.
Neste dia, quando chegou a casa de pois da corrida, o telefone estava tocando. Estranhando uma ligação àquela hora do dia, correu para atender ao telefone. Era sua mãe, com voz preocupada, dizendo-lhe que o pai, havia sentindo-se mal durante a noite e fora internado. Estava submetendo-se a exames naquele momento. Os médicos ainda não haviam dito nada a ela. Ele disse que iria correndo para sua cidade, mas a mãe disse que se fosse necessário, ela ligaria novamente, que era para ele esperar o final de semana que logo chegaria.
E assim foi ... Carlo apesar de muito preocupado, tentou se concentrar nos estudos, pois estavam no final de mais um semestre.
Dias depois, a mãe tornou a ligar pois, o diagnóstico não poderia ser pior: o pai estava com leucemia.
Carlo terminou as provas e trabalhos que faltavam, e foi embora para sua cidade. Dali foi com o pai para a capital, onde havia hospitais melhores equipados para tratamentos deste porte. Todos os exames foram refeitos e o diagnóstico se confirmou para tristeza de todos; era mesmo a doença tão temida. O novo ano começou em meio a quimioterapias, internações e transfusões de sangue. Carlo não arredava o pé de perto do pai, e sempre lhe atendia com carinho e total dedicação. O pai apenas olhava o filho com enorme carinho e muito amor. Foram meses de tratamento e o pai ficava cada vez mais preocupado com o filho, pois ele estava perdendo suas aulas. Carlo o acalmava dizendo que ele apenas havia trancado sua matrícula, logo voltaria a estudar.
O ano todo foi de tratamento intensivo, com altos e baixos. O pai às vezes apresentava melhoras surpreendentes, outras vezes caia e desanimava de tudo. O filho foi sua maior força; por nenhum instante deixou que ele acreditasse que iria se recuperar.
Em dezembro, veio o resultado que todos esperavam: a leucemia fora derrotada. O pai estava bem novamente, agora precisaria apenas fazer os controles, à princípio, mensais e depois tudo iria se espaçando até a alta. Foi o melhor presente de Natal que poderiam imaginar, e com essa notícia fizeram uma bela festa de final de ano com todos os parentes e amigos.
Novo ano, e a volta aos estudos foi inevitável, o pai o incentivou a voltar para terminar sua faculdade. Apesar de contrariado, Carlo se preparou e voltou à cidade onde estudava. Se preparou novamente para àquela rotina de que tanto gostava. Precisava voltar a correr, sentia falta de seus exercícios. E foi assim, que no dia seguinte de sua chegada, colocou o despertador para às cinco horas, se levantou e foi para a linha férrea correr. O som que havia escolhido para aquele dia era um rock, muitos instrumentos, muita voz, e sempre na maior altura, Carlo brincava que, quando estava correndo, não queria ouvir nem seus pensamentos, apenas as canções.
E assim foi... por estar tão agradecido, com a música tão alta, não ouviu o apito do trem que vinha em sua direção.
O choque foi inevitável. Ele ainda teve a sensação de estar voando, antes de se arrebentar sobre os trilhos e ser arrastado pelo trem, que cumpria seu novo horário....


Silvia Ferrante - 2016

Nota da autora: Esse conto foi baseado numa história que presenciei e que aconteceu há muito tempo.... A foto que ilustra, foi feita na chegada do meu trem à Lisboa-Portugal.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

“EU E O MAESTRO”



Estava sentada naquele lugar lindo, iluminado. Era assim como uma grande redoma de vidro cercada de muito verde.
 As plantas, em profusão, davam ao ambiente um toque muito especial. Nunca havia visto nada parecido. Todas as mesinhas eram brancas assim como as cadeiras, o piso, a louça, as toalhas e a minha roupa. O salão era imenso e, naquele momento, estava vazio.
Eu me encontrava sentada sozinha numa daquelas mesinhas e saboreava tranquilamente um Cappuccino com muita canela.
De repente, vejo entrar no salão um homem alto, também de roupa branca, chapéu tipo Panamá na cabeça, charuto em uma das mãos e um copo de Whisky na outra.
Veio em minha direção e eu tinha certeza de que ele não me era estranho. Ao chegar perto da minha mesa, cumprimentou-me e disse:
 - Você continua na música, Silvia?
Eu fiquei pasma! Reconheci a figura, a voz rouca, imaginem, era o Tom!  Tom Jobim, maestro, compositor, músico, pianista ali na minha frente conversando comigo e ainda por cima me chamando pelo nome como se também me conhecesse.
Fiquei boquiaberta e sem saber o que dizer enquanto o observava colocar seu copo sobre a minha mesa, puxar uma cadeira e sentar.
Minha reação?
 – “Me belisca que eu tô sonhando”...
Porém, estava tudo ali, era tudo muito real. O maestro conversou comigo por horas. Falou-me de sonhos, de sons, da natureza, principalmente de sua grande paixão que são os pássaros, de música.
Pediu que eu não desistisse nunca de cantar, disse que eu realizaria grandes coisas e, com elas, muitos sonhos.
Às vezes eu arriscava falar algo, ou mesmo fazer alguma pergunta. Tudo que eu dizia parecia tolo diante da grandeza daquele homem sentado à minha frente, daquele “maestro – amigo” que eu nem desconfiava ter.
Num lampejo da minha memória lembrei:
- O maestro Tom Jobim havia falecido havia tempos...
Foi só essa confirmação chegar à minha cabeça que ele, mesmo sem eu ter falado nada, despediu-se, levantou e saiu fumando seu charuto.
Caminhou um pouco, olhou mais uma vez para mim e me presenteou com um sorriso e um sinal de adeus.
Uma porta, também branca, se fechou atrás dele.

Acordei em paz e percebi que o cheiro da fumaça do charuto que o maestro fumava impregnava meu quarto...


Silvia Ferrante

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

FIM-DE-LINHA


 
FIM-DE-LINHA
 

Fim de noite num bar decadente. A mulher, com seu generoso decote vermelho, provavelmente foi bonita um dia. Olha para o copo que está pela metade, o líquido que bebe também é vermelho. O lugar é deprimente, esfumaçado, pouca luz, um entra e sai de gente cambaleando.

Observo a cena. Pessoas olham de lado desconfiadas, casais se esfregam provocando-se mutuamente, bêbados exaltados falam alto, ameaçam.

A mulher, alheia a tudo, continua sozinha. Acende um cigarro. A impressão que tenho, é que ela está chorando. Quando termina o cigarro, bebe o resto do líquido vermelho, deixa um dinheiro na mesa, levanta-se e passa por mim. Sua maquiagem está borrada, ela estava mesmo chorando.

Abre a porta, a rua a engole...

 

Texto e Foto - Silvia Ferrante - 2017