Havia
sido contratada para ser a supervisora de Enfermagem do Pronto Socorro e
Ambulatório do único hospital daquela cidade de interior.
Não
tinha experiência alguma nesta área, pois ao contrário do que muitos pensam, a
escola nos dá muita teoria, mas a prática que é bom, nada, e não me venham
dizer o contrário, vivi na pele.
Depois
que me formei, trabalhei apenas na Saúde Pública, que sei ter seus inúmeros
méritos, mas não era para mim, então pegar assim, “de mãos vazias”, um serviço
de pronto atendimento era um dos maiores desafios que já havia me deparado na
vida.
Primeiramente
vem o descrédito dos funcionários mais antigos de que daria conta do recado,
depois o olhar desconfiado de médicos e suas auxiliares, suas sim, pois naquele
tempo, não haviam auxiliares homens.
Minha
equipe era restrita: eu e mais dois auxiliares por plantão e só. Daí quando
chegava um acidente de maiores proporções, toca acionar o pedido de ajuda, e
vinham auxiliares de todos os lados, mas sem a necessária experiência a um bom
e completo atendimento.
Vou
chamar de “auxiliares”, todos os atendentes e técnicos da época, pois a
nomenclatura era diferente do que temos hoje.
Minha
primeira semana já começou com alguns fatos inusitados e que até hoje vivem em
minha memória.
Ainda
tentando gravar tudo o que me mostravam, levando broncas de médicos
plantonistas porque deixaram o laringoscópio com pilhas vencidas e coisas
assim, chegou ao local um homem mulato, maltrapilho, alto e gritando que ia
morrer. Neste momento eu me encontrava sozinha, pois os auxiliares estavam
levando um paciente para a internação.
Cheguei
até o tal homem e com jeito tentei acalmá-lo para saber o que estava
acontecendo com ele. Ele muito afoito me respondeu que havia sido picado por
uma cobra e que ia morrer, dizendo isso me mostrou a mão com sinal de picada,
com um pouco de sangue. Disse-lhe que estava no local certo, pois tínhamos o
soro, ele tomaria e ficaria bom. Que não se preocupasse, pois tudo se
resolveria e ele não iria morrer. Daí lhe perguntei o “clássico”:
-
O senhor viu que cobra o picou?
Ele
olhou pra mim e, tirando uma cobra preta do bolso a esticou em minha direção,
eu que sempre tive pavor de cobras, saí correndo para o pátio e o deixei
sozinho segurando aquele bicho.
O
pessoal ouvindo a confusão veio ver o que estava acontecendo e eu expliquei o
caso rapidamente. Enquanto os funcionários riam de minha estupidez, um deles me
disse que aquele senhor era um dos “fregueses”, que sempre buscava atenção. A
cobra era uma dessas de jardim, que não faziam mal a ninguém. O ferimento na
mão ele provavelmente o fez, para que alguém acreditasse em sua história.
Assim,
fui devidamente “batizada” em meu novo emprego.
Foto/texto: Silvia Ferrante
(Na falta de foto de cobra, usei uma de aranha, bicho que sempre chegava também)
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