domingo, 2 de abril de 2017

História de Hospital


 Havia sido contratada para ser a supervisora de Enfermagem do Pronto Socorro e Ambulatório do único hospital daquela cidade de interior.
Não tinha experiência alguma nesta área, pois ao contrário do que muitos pensam, a escola nos dá muita teoria, mas a prática que é bom, nada, e não me venham dizer o contrário, vivi na pele.
Depois que me formei, trabalhei apenas na Saúde Pública, que sei ter seus inúmeros méritos, mas não era para mim, então pegar assim, “de mãos vazias”, um serviço de pronto atendimento era um dos maiores desafios que já havia me deparado na vida.
Primeiramente vem o descrédito dos funcionários mais antigos de que daria conta do recado, depois o olhar desconfiado de médicos e suas auxiliares, suas sim, pois naquele tempo, não haviam auxiliares homens.
Minha equipe era restrita: eu e mais dois auxiliares por plantão e só. Daí quando chegava um acidente de maiores proporções, toca acionar o pedido de ajuda, e vinham auxiliares de todos os lados, mas sem a necessária experiência a um bom e completo atendimento.
Vou chamar de “auxiliares”, todos os atendentes e técnicos da época, pois a nomenclatura era diferente do que temos hoje.
Minha primeira semana já começou com alguns fatos inusitados e que até hoje vivem em minha memória.
Ainda tentando gravar tudo o que me mostravam, levando broncas de médicos plantonistas porque deixaram o laringoscópio com pilhas vencidas e coisas assim, chegou ao local um homem mulato, maltrapilho, alto e gritando que ia morrer. Neste momento eu me encontrava sozinha, pois os auxiliares estavam levando um paciente para a internação.
Cheguei até o tal homem e com jeito tentei acalmá-lo para saber o que estava acontecendo com ele. Ele muito afoito me respondeu que havia sido picado por uma cobra e que ia morrer, dizendo isso me mostrou a mão com sinal de picada, com um pouco de sangue. Disse-lhe que estava no local certo, pois tínhamos o soro, ele tomaria e ficaria bom. Que não se preocupasse, pois tudo se resolveria e ele não iria morrer. Daí lhe perguntei o “clássico”:
- O senhor viu que cobra o picou?
Ele olhou pra mim e, tirando uma cobra preta do bolso a esticou em minha direção, eu que sempre tive pavor de cobras, saí correndo para o pátio e o deixei sozinho segurando aquele bicho.
O pessoal ouvindo a confusão veio ver o que estava acontecendo e eu expliquei o caso rapidamente. Enquanto os funcionários riam de minha estupidez, um deles me disse que aquele senhor era um dos “fregueses”, que sempre buscava atenção. A cobra era uma dessas de jardim, que não faziam mal a ninguém. O ferimento na mão ele provavelmente o fez, para que alguém acreditasse em sua história.
Assim, fui devidamente “batizada” em meu novo emprego.

Foto/texto: Silvia Ferrante
(Na falta de foto de cobra, usei uma de aranha, bicho que sempre chegava também)




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